Certa vez ouvi a seguinte história: um funcionário de uma empresa de médio porte anunciou para a direção que a produtividade de todos os funcionários aumentaria caso fosse criada e disponibilizada uma rede social interna, da qual apenas os funcionários daquela empresa participaram.

O projeto teve um orçamento de aproximadamente cinquenta mil reais, e levou cerca de um ano para ficar concluído.

Ao ser disponibilizado para a empresa, algo não previsto aconteceu: a rede social não obteve a adesão desejada, e como consequência a diretoria da empresa entendeu que no fim das contas perdeu dinheiro e tempo desnecessariamente, e acabou demitindo o criador da ideia.

No entanto, uma análise posterior acabou identificando que a rede social não tivera a adesão desejada por um simples motivo: as pessoas não conseguiam encaixar as funcionalidades disponibilizadas pela plataforma no contexto de um desktop (computador pessoal). Todavia, se a plataforma fosse desenvolvida para o ambiente mobile, teria todas as chances de dar certo.

Outra vez, vi que um produtor de conteúdo digital chamado Gerson Ribeiro, ao promover o seu infoproduto, contou um caso interessante: uma empreendedora elaborou uma lista de funcionalidades de um software que ela imaginara para sua nova startup.

Após submeter a lista de funcionalidades a elaboração de um orçamento e ficar assustada com o preço, a empreendedora procurou o referido produtor para pedir-lhe uma opinião e, como resultado, o Gerson identificou uma série de inconsistências similares à apresentada no caso da rede social, o que ocasionou uma economia no orçamento de algumas dezenas de milhares de reais.

O caso dos apps desenvolvidos pela França e pela Austrália

Recentemente li no artigo da MIT Technology Review de título “8 million people, 14 alerts: why some covid-19 apps are staying silent” um outro caso bastante curioso: França e Austrália, ao desenvolverem seus apps de notificação no caso de proximidade de pessoas contaminadas com o coronavírus, priorizaram suas próprias vontades e ignoraram as particularidades das tecnologias.

Como resultado da decisão, o projeto acabou “indo por água abaixo”, principalmente porque o aplicativo da Austrália funcionava apenas 25% do tempo em alguns dispositivos, em particular nos iPhones. Já o aplicativo da França acabou gastando excessivamente a bateria dos smartphones, resultando na desinstalação do aplicativo por centenas de milhares de pessoas.

Perceba que a principal falha tanto dos apps da França e da Austrália quanto dos dois casos apresentados anteriormente foi a falta de um planejamento adequado, a falta de um projeto que levasse em consideração as particularidades do mundo real, de forma a otimizá-las no mundo digital.

Em outras palavras, a visão principal foi “Eu penso que…”, em vez de “Deixe-me ver como funciona e como eu posso otimizar ou utilizar ao meu favor…”.

E qual é mesmo a lição que podemos aprender com tudo isso?

Entendendo que em um mundo cada vez mais digital, criar negócios inovadores necessariamente significa criar softwares, é importante saber identificar os fatores que fazem um software “funcionar” da maneira que foi idealizado, ou fazê-lo de forma totalmente diferente do esperado, resultado na perda de dinheiro, tempo e outras coisas.

Dessa forma, quando você for criar o projeto da sua próxima startup, garanta que você planejou adequadamente o desenvolvimento do software a ele relacionado: qual é o público-alvo específico, quais as características das tecnologias a serem utilizadas, quais as características das pessoas ao utilizarem as tecnologias relacionadas etc.