Como podemos ver no artigo “OpenAI’s new language generator GPT-3 is shockingly good—and completely mindless”, da MIT Technology Review, o novo modelo de inteligência artificial da OpenAI chamado GPT-3 deu um grande salto de evolução: ele pode gerar qualquer tipo de texto, desde textos em linguagens naturais de seres humanos, até códigos de linguagens de programação.

Já se tinha conhecimento inclusive de startups que utilizam algoritmos de IA para gerarem artigos de jornais e revistas. A Narrative Science  tem um grande destaque nesse sentido.

Porém, um grande diferencial que quero destacar aqui neste texto é justamente o fato de o GPT-3 ser capaz gerar códigos de linguagens de programação, não somente pelo fato de ele não ter sido programado para criar ou gerar qualquer tipo de código, mas também e principalmente pelo impacto em potencial que isso traz para toda a estrutura da nossa sociedade.

Veja que a nossa sociedade é cada vez mais baseada no mundo digital, e não somente empresas têm mais chance de, a grosso modo, darem certo, mas até mesmo o ato de inovar está cada vez mais ligado ao quanto a empresa é digital.

Silvio Meira, inclusive, em uma das suas palestras disse:

“Sua  capacidade de inovar está diretamente ligada à sua capacidade de escrever software.”

Dessa forma, para que  você possa ter uma ideia das mudanças que não especificamente o GPT-3 pode causar na nossa sociedade (pois ele ainda possui algumas falhas e limitações), mas que os seus próximos sucessores podem casar, convido você a fazer X pequenos raciocínios comigo, que dividirei em X seções para melhorar a experiência de leitura. São eles:

1. E se ampliarmos radicalmente a presença de software na nossa sociedade?

O fato de software estar em praticamente qualquer lugar hoje em dia, já mudou radicalmente a forma como muita coisa funciona na nossa sociedade: pagamentos através de aplicativos de banco em vez de longos tempos de espera em fila e a utilização de aplicativos de geolocalização  como o Waze para viajarmos mais tranquilos e confiantes por qualquer trajeto são apenas alguns exemplos.

Agora, preste bastante a atenção no seguinte raciocínio:

Desenvolver do zero um aplicativo de banco ou o Waze é relativamente trabalhoso, pois envolve muitas pessoas especializadas, e como resultado demanda um certo tempo de espera e custos financeiros. Concorda?

E se, qualquer pessoa pudesse obter um software, da forma que imagina e quase instantaneamente, simplesmente ao descrever Como gostaria que o software fosse e quais tarefas gostaria que ele realizasse? E o melhor, a um custo de algumas dezenas de reais (para estipular esse valor, estou baseando-me nos custos da Netflix, que é um SaaS – Software as a Service)!

Será que a quantidade de softwares presentes em todos os lugares aumentaria consideravelmente? Será que mais pessoas passariam a utilizar mais softwares para realizarem suas tarefas diárias?

Quais  os impactos você imagina que isso traria para a nossa sociedade como um todo?

2. E como ficam as faculdades?

Neste momento, não estou referindo-me somente às faculdades ou cursos de tecnologia que têm como núcleo o ensino de programação/desenvolvimento de software, mas levando em consideração que o GPT-3 criou um software (sim, pequeno, mas software – depois dá uma olhadinha nesse vídeo do Filipe Deschamps) com apenas dois pequenos exemplos de trechos de código, o que mais ele não poderia criar com poucos exemplos?

Ou melhor: o que mais ele poderia nos responder imediatamente com simples perguntas. Ou ainda: quais problemas seus sucessores poderiam resolver quase que instantaneamente com apenas poucas descrições a respeito do próprio problema?

Como diz Silvio Meira nesse vídeo: perguntas não são problemas, e respostas não são soluções.

Perceba que eu não falei em os sucessores do GPT-3 responderem perguntas. Isso foi o que o IBM Watson fez já quase dez anos atrás, no programa “Jeopardy!”, como você pode ver aqui no The New York Times.

Eu estou falando em os sucessores do GPT-3 resolverem problemas, que é o que nós, seres humanos, deveríamos estar sendo preparados nas universidades para fazer, mas não estamos.

Sim, pode ser que você me prove o contrário aqui nos comentários, mas a minha visão no momento em que escrevo este texto é que, na grande maioria dos casos, todo o nosso sistema de ensino é baseado em acumularmos conhecimento (seja de livros, conversas, experiências ou através da pior forma possível: textos em slides – veja que slides não são livros para conterem grandes trechos de textos como geralmente vemos), assim como as provas servem unicamente (pelo menos em teoria) para mostrar para nós e para outros a quantidade e a qualidade de conhecimentos que conseguimos armazenar nos nossos cérebros em um dado intervalo de tempo.

Sendo assim, se em 2011 o nosso conhecido vestibular já se tornou pelo menos em parte ultrapassado, através do advento do IBM Watson, e o que restava dele era a justificativa de ainda era importante os seres humanos deterem as respostas internamente porque isso facilita a resolução de problemas,  e quando os sucessores do GPT-3 já estiverem resolvendo os próprios problemas?

E recapitulando que a grande maioria de nós tem até mesmo dificuldade de responder perguntas (veja os aprovados em concursos: ter um bom êxito e responder corretamente pelo menos 90% das questões é um privilégio de poucos), como seria concorrermos com os sucessores do GPT-3?

Grandes mudanças para um futuro muito breve

No início deste texto eu fiz a pergunta: “Quanto tempo falta para a Inteligência Artificial dominar o mundo?”. Essa pergunta, apesar de despertar uma certa preocupação, eu gostaria de fazer o contrário do que ela propõe e passar te passar contentamento.

Vamos fazer, por exemplo, uma simples comparação com o software: hoje, pode-se dizer que o software dominou o mundo?

Sinceramente, não sei responder. Mas o que sei dizer é que em todas as vezes que conheço ou que pelo menos consigo lembrar neste momento, a aplicação de software otimizou as tarefas do escopo no qual ele foi aplicado.

Entendendo software como uma ferramenta, e entendendo também que Inteligência Artificial é software, podemos entender que a Inteligência Artificial também é uma ferramenta.

Talvez, possamos até compará-la (a muito grosso modo e para tentar simplificar ao máximo a compreensão) com uma simples calculadora: veja que as calculadoras tornaram, de uma certa forma e em um certo escopo, melhor a nossa vida, pois nos livraram de fazer grandes e complexos cálculos em folhas de papel.

É exatamente isso que a Inteligência Artificial propõe: assumir as tarefas repetitivas que fazemos no nosso dia a dia, sejam físicas ou principalmente cognitivas.

Dessa forma, ao invés de ficarmos chateados com as calculadoras por não precisarmos mais passar dias fazendo cálculos “na mão”, não seria melhor utilizarmos as calculadoras para o que elas se propõem e dedicarmos nosso tempo “livre” para atividades mais proveitosas?

Veja que, seguindo o mesmo raciocínio, fica até mais claro entender que, assim como não faz sentido dizer que uma  pessoa está concorrendo com uma calculadora para ver quem calcula mais rápido ou mais exato, também não faz sentido dizer que as pessoas vão conseguir concorrer com a Inteligência Artificial dentro daquilo que ela já provou ser melhor que nós.

Fica mais fácil, simplesmente, utilizar a calculadora,  utilizar a Inteligência Artifical, e nos dedicarmos a coisas mais interessantes.

A boa notícia é que temos tempo para planejar como serão as coisas no futuro. Não muito, mas ainda temos. E estamos passando nesse momento, inclusive, por uma pandemia, que está mostrando que a forma de “as coisas” funcionarem como sempre funcionarem, em muitos  casos, além de ultrapassadas são inviáveis.

Logo, esse é um ótimo momento para analisarmos o que é antigo, o que é ultrapassado, o que como deve ser o futuro e qual a contribuição que podemos dar para a construção desse futuro.

A má notícia é que existe muita gente ainda disposta a comprar briga pra concorrer com “a calculadora”, a apostar quem calcula mais rápido ou mais exato.

Eu quero optar por ajudar a sociedade e contribuir para ajudar na construção de um futuro melhor e mais justo, e convido você a pensar junto comigo. Então faz o seguinte: compartilha esse texto com algum amigo ou amiga e nos siga nas redes sociais (os links também estão logo abaixo) para que possamos continuar nossa conversa! Tem muita coisa a ser feita, e sua contribuição é, com todas as certezas do mundo, extremamente valiosa!

Abraços e até logo! 😀